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Meu medo, meu terror, é se disseres:
Teu verso é raro, mas inoportuno.
Como se um punhado de cerejas
A ti fosse dado
Logo depois de haveres engolido
Um punhado maior de framboesas.

E dirias que sim, que tu me lembras.
Mas que a lembrança das coisas, das amigas
É cotidiana em ti. Que não te enganas,
Que o amor do poeta é coisa vã.

Continuarias: há o trabalho, a casa
E fidalguias
Que serão sempre preservadas.
Se és poeta, entendes. Casa é ilha.
E o teu amor é sempre travessia.

Meu medo, meu terror, será maior
Se eu a mim mesma me disser:
Preparo-me em silêncio. Em desamor.
E hoje mesmo começo a envelhecer.

[in: Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão. Hilda Hilst]

 

Dos Colaboradores

Afonso, Dheyne de Souza
Arthur Alves Reis, Erwin Maack
Flashpornô I, Nereu Afonso
O cavaleiro da bela figura, Susana Fuentes
Segunda Carta de um Romano Albino ao Pai [pingos caindo nos seus devidos iiiis], Wesley Peres

Entre os assinantes

Tere Tavares, Tempo de Lírios

 

[imagem: Lanny Towel. Mexico. 1996. Capulin. Chihuahua. Mennonites.]