Wesley Peres
Ela insiste em falar comigo em húngaro. Não sempre, mas de modo intermitente, ela insiste em falar comigo em húngaro. Ela fala português, não muito bem, mas o suficiente, mais do que suficiente para que eu a entenda em português. Ela fala na maior parte do tempo em português. Se chama Evah, claro, diz ela, sorrindo os olhos muito azuis, Evah não é um nome húngaro. Conheci Evah na UnB, Café das Letras, melhor dizendo, dentro da livraria ao lado do Café das Letras, ela folheava um livro do Vinícius e eu lhe disse Eu não gosto do Vinícius e ela respondeu que para exercitar a língua qualquer coisa servia e eu lhe disse Mas logo má poesia? Não faço a menor ideia de por que, mas isso de eu lhe dizer “Mas logo má poesia” fez com que Evah me olhasse com outros olhos, também azuis, mas outros olhos, e isso de ficar dizendo “outros olhos” me faz parecer que estou na merda de um verso do Vinícius.